O amor fatal: Destino
(Almeida
Garret, Folhas Caidas)
Quem
disse à estrela o
caminho
que ela há
de seguir no
céu?
A
fabricar o seu ninho
Como é
que a ave
aprendeu?
Que diz a
planta-
Floresce!
E o mundo
verme que
tece
sua mortalha
de seda
Os fios
quem os enreda?
Ensinou
alguém à
abelha
Que no
prado anda a
zumbir
Se à flor
branca ou à
vermelha
O seu mel
há-de ir
pedir?
Que eras
tu meu ser,
querida.
Teus
olhos a minha vida
Teu amor
todo meu
bem...
Ai! não mo disse
ninguem.
Como a
abelha corre ao
prado,
Como no
céu gira a
estrela,
Como a
todo o entrre o
seu fado
Por instinti se revela,
Eu no teu
seio divino
Vim
cumprir o meu
destino...
Vim, quem
em ti só sei
viver
Só por ti
posso
morrer.
A INCAPACIADADE DE AMAR: NÃO TE AMO
(Almeida
Garrett, Folhas Caídas)
Não te
amo, quero-te: o amor vem
d'alma.
E eu n'alma -tenho a calma,
A calma -
do jazigo.
Ai! não te amo, não.
Não te
amo, quero-te: o amor é
vida,
E a vida
- nem sentida
A trago eu já
comigo.
Ai! não te amo, não!
Ai! não te amo, não; e só te quero
De um
querer bruto e fero
Que o
sangue me devora,
Não chega
ao coração.
Não te
amo. És bela; e eu não te
amo, ó bela.
Quem ama
a aziaga estrela
Que lhe
luz na má hora
Da sua
perdição?
E
quero-te, e não te ama, que é
forçado,
De mau,
feitiço azado
Este
indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.
E infame
sou, porque te quero; e
tanto
Que de
mim tenho espanto,
De ti
tenho medo e terror....
Mas
amar!...não te amo, não.
O AMOR FATAL: Seus olhos
Almeida
Garrett, Folhas Caídas
Seus
olhos - seu eu sei pintar
O que os
meus olhos cegou
Não
tinham luz de brilhar,
Era a
chama de queimar;
E o fogo
que ateou
Vivaz,
eterno, divino.
Como
facho do Destino.
Divino,
eterno! - e suave
Ao mesmo
tempo: mas
grave
E de tão
fatal poder.
Que, um
só momento que a
vi,
Queimar
toda alma senti...
Nem ficou
mais de meu ser,
Senão a
cinza em que ardi.